Há algum tempo, eu venho falando sobre esse assunto aqui no blog. Nesse post e nesse também, abordei a questão de games serem ou não uma forma de arte. Apontei evidências e dei minha opinião. Agora, vou mostrar com um argumento um pouco mais confiável, o ponto de vista de uma pessoa ligada às artes, e que não é apenas um gamer.
Há alguns meses, o Smithsonian American Art Museum, um dos maiores museus dos EUA e do mundo, anunciou que iria fazer uma exposição sobre a arte dos videogames. Alguns jogos previamente escolhidos foram votados pelo público (incluindo este humilde blogueiro) e agora quem participou da votação tem acesso à informações sobre a exibição.
O curador da exposição, Chris Melissinos, respondeu a algumas das perguntas dos votantes, e aqui estão algumas das respostas dele. Confira as partes mais interessantes:
Público: "O que você acha que os games, como uma forma única de arte, têm a oferecer?"
Chris: "Todos os games têm elementos clássicos de arte visual deslumbrantes, uma narrativa poderosa e um ponto de vista reforçado. O diferencial é o papel do jogador. Videogames são uma forma de expressão artística única através do que eu chamo de 'três vozes': a voz do designer ou artista, a voz do jogo e suas mecânicas e a voz de quem joga. O designer pode moldar a experiência que segue um arco pré-determinado para chegar a uma conclusão, enquanto permite controlar e experimentar o mundo do jogo. Isso retém a voz autoritária do criador e possibilita cada pessoa ter uma experiência única. Não há outra forma de mídia que permita essas três partes interagirem para se apresentar como a expressão. É fantástico que o Smithsonian queira celebrar os designers e desenvolvedores que criam esses universos para cativar os jogadores como um livro ou filme pode entreter a pessoa em seu mundo fictício."
P: "Você se surpreendeu com algum dos resultados da votação de quais jogos deveriam figurar na exibição? Muitas das categorias estavam cheias de competidores fantásticos!"
C: "Certamente houveram alguns resultados interessantes no processo. Decidimos colocar a votação para o público para que as pessoas que se emocionaram e dedicaram tanto tempo com os games pudessem escolher os 80 que estarão presentes na galeria. Na verdade, qualquer que fosse a seleção das pessoas, nós poderíamos moldar a narrativa geral para a exposição.
[...] Algumas das escolhas eram especialmente difíceis tanto para mim quanto para as pessoas. [...] ter que escolher entre Chrono Trigger, The Legend of Zelda: A Link to the Past e Earthbound era uma tarefa praticamente impossível e tão dolorosa pra mim quanto pra qualquer um."
P: "Ao escolher os jogos, você levou mais em conta os que possuíam uma parte artística mais física, como gráficos, som e apresentação, ou os que eram mais conceituais, com gameplay, controles, história e jogabilidade?"
C: "Alguns dos melhores jogos da história não têm os gráficos mais bonitos, e alguns com os visuais mais espetaculares não estão entre os melhores. [...]
Em jogos que pretendem ter uma narrativa, entretanto, a estrutura e mecânicas são tão importantes quanto aparência e estética visual. Nosso objetivo era reunir games que dispunham de ambos os elementos. Mas lembre-se que muitos dos grandes exemplos de expressão artística eram restringidos pela tecnologia, portanto avaliamos também a criatividade do designer para contar sua história.
Para mim, os videogames de mais sucesso são os que conseguem equilibrar todos esses aspectos. Acredito que conseguimos encontrar um equilíbrio nos games que foram selecionados, e esperamos a opinião de todos os que visitarem a exposição!"
P: "Na sua opinião, qual foi a inovação mais revolucionária ou que mais influenciou os jogos ao ser implementada?"
C: "[...] Muitas mudanças tiveram impacto, mas se eu tivesse que escolher só uma, seria a possibilidade de jogar online com pessoas do mundo inteiro."
Esses são os trechos mais relevantes da mini "entrevista" com o curador da exposição. É muito interessante ouvir a opinião de alguém que não esteja ligado somente ao mundo dos games, e que consiga ver tudo isso por outro ângulo. Mas as respostas de Chris Melissinos só reforçam a tese de que games são uma forma de arte!
PS: A exposição The Art of Video Games estará no Smithsonian no ano que vem.
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