
Há um relato curioso durante os anos iniciais do cinema. Em uma pequena mostra de um rústico filme, era exibido uma locomotiva em ação, se dirigindo à câmera. O filme não fez sucesso. Todo o público saiu correndo da sala de exibição, com medo de serem atropelados pelo trem. Parece algo muito infantil, mas tente imaginar quão nova era essa tecnologia para a época.

Com a difusão do cinema foram surgindo os grandes estúdios, os famosos centros de exibição, atores renomados e uma indústria cada vez mais lucrativa. A arte de filmar e ser filmado passou a ser mais complexa. O cinema mudo reinou como único nas épocas em que fez sucesso. A captação do som se tornou possível, e a febre por filmes cresceu. O terror, o romance e o drama eram os gêneros mais feitos, mas uma semente de crítica social foi nascendo, se concretizando em nível mundial com as críticas duras e muito bem feitas do mestre Charlie Chaplin, como em “Ouro de Tolo”, em que mostrava as duras condições dos mineradores da febre do outro americana, “Tempos Modernos”, criticando a modernização e o consequente abuso da força trabalhadora e “O grande ditador”, a primeira grande produção cinematográfica a destruir ao nível cômico a figura de Hitler.

“O Nascimento de uma Nação” e “Arquitetura da Destruição”. Ambos defendiam ideologias de segregação e repressão. O primeiro defende a comunidade branca americana, mostrando A Ku Klux Klan como defensora da paz. O segundo, mostra as supostas vantagens e glórias do Nazismo.
O cinema passou a ser uma arma de instrumento social, político e cultural. Além das ficções que já eram comuns, os filmes passaram também a serem uma grande propaganda. Durante o regime Nazista, Hitler se utilizou muito da 7º arte para propagar os benefícios de seu regime, como em “Arquitetura da Destruição”, a maior propaganda de apologia ao nazismo já feita. Do outro lado da Europa o governo Soviético também investia em filmes para mostrar o quanto o socialismo deu certo, embora sua população sofresse severas privações de alimento e condições básicas durante o governo de Stálin. E claro, os EUA encabeçaram o cinema de propaganda. Seja na ficção ou em documentários, os EUA eram o paraíso mundial visto dentro de um cinema.

O poder de domínio de um povo se vê no que este povo está a consumir, seja em produtos ou arte. E o cinema que consumimos, majoritariamente, é o americano. Sua estética, forma e tipo nos atrai. Sua qualidade é a melhor do mundo, isso não se têm dúvida. Seus atores são os melhores. Mas porque isso? Simples. Diante de uma cultura que cria todo um cenário para isso ser possível nenhum outro país chega a competir cinematograficamente com os EUA a nível de supera-lo. Os últimos 15 anos foram importantes para o cinema, pois esse cenário mudou um pouco. Países como o Brasil, Argentina, Irã, França, Inglaterra, e China têm se destacado em suas produções. É de se esperar que daqui alguns anos os EUA já não tenha a força que têm. Pelo menos nas telas dos cinemas.
Com tudo isso que falei, o principal é simples e direto. O nível econômico de um país, suas intenções políticas e ideológicas estão diretamente ligadas à sua produção cinematográfica. Por isso o cinema não é uma arte só de se sentar e assistir. Acrescente o “pensar”, e tudo fará muito mais sentido.
Chaplin mostra tudo isso com muito mais classe em um exemplo mais que perfeito da força da 7º arte:
É a arte do duvidoso, do indesejado, do surpreendente. A arte do impossível.
Por Lucas Fiaschetti Estevez